Resultado da tradição oral dos primeiros crentes da era cristã, os apócrifos tornaram-se importantes documentos reveladores do modo como vivia e pensava uma grande parcela da cristandade, cuja voz ficou abafada pela igreja oficial. Produzidos para satisfazer as curiosidades populares a respeito da infância de Jesus e de seus pais, bem como estabelecer as raízes da nova religião, tais escritos revelam, por um lado, as idiossincrasias do pensamento e das práticas judaicas que marcaram a origem do cristianismo e, por outro lado, refletem a efervescente e plural cultura gentílica com a qual o cristianismo passou a lidar cotidianamente em seu processo de expansão.
Muitos séculos depois, a despeito de não terem sido incluídos no cânone das Escrituras cristãs, tais textos continuam despertando a curiosidade do crescente número de interessados nas coisas da Religião. Todavia, o desconhecimento generalizado do conteúdo dos apócrifos tem gerado especulações que somente o exame acurado de seu real teor pode dirimir. Ao editar estes livros, pela primeira vez reunidos em volume único, longe de apresentar uma nova Bíblia aos cristãos, o nosso objetivo é disponibilizar as fontes primárias de um compêndio de riqueza informativa incomensurável para a plena compreensão do cristianismo e estreitar o contato com a herança literária legada pelos movimentos populares que se mantiveram marginais no curso da história da igreja.
A publicação dos Apócrifos da Bíblia e Pseudo-epígrafos converte-se em uma nova contribuição para os interessados em aprofundar os estudos das Sagradas Escrituras, através de seu cotejo com a produção literária apartada do cânon tradicional. Destarte, o entendimento dos motivadores ideológicos que serviram à produção de ambos, bem como as razões que levaram a igreja a adotar alguns textos como inspirados e reprovar outros como de origem espúria ou apócrifa, motivar-nos-á reafirmar o amor pela Palavra de Deus.